Escassez global de chips para cartões abre espaço para tokenização de pagamentos

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Por Mauro Tozzi, Global Head of Sales da HST Card Technology

Os cartões de pagamento são essenciais para a vida quotidiana e para os negócios. Quase 90% dos pagamentos de consumidores que não são em dinheiro são feitos com cartões em lojas físicas e os cartões de pagamento também são essenciais para acessar o dinheiro. Além disso, entre 40 e 60% dos pagamentos online são suportados direta ou indiretamente (via carteiras digitais) por cartões de pagamento.

Garantir uma cadeia de suprimentos ininterrupta para cartões é fundamental para a vida cotidiana e para o comércio. Como são emitidos na abertura de uma conta bancária, renovados após sua data de vencimento ou substituídos de maneira emergencial em caso de perda, a cada ano mais de 3 bilhões de cartões de pagamento baseados no padrão EMV, utilizado pelas principais bandeiras de cartão de crédito e débito no mundo, precisam ser produzidos e entregues aos consumidores globalmente.

Com a escassez global de chips, porém, uma ameaça real surgiu. Os gargalos no fornecimento de chips tornaram-se tão críticos que os fabricantes de cartões enfrentam dificuldades cada vez maiores para conseguir os chips necessários para produzi-los. O mercado prevê interrupções significativas na produção de cartões de pagamento, afetando a capacidade de atender à demanda mundial. Essa crise não dá sinais de terminar tão cedo e continuará em 2022.

O problema deve demorar para ser resolvido, até porque outros setores com maior valor agregado devem ser atendidos primeiros pelos vendedores de semicondutores, como o automotivo e de eletrônicos. Sob essa perspectiva, a escassez de chips para o mercado de cartões de crédito pode impulsionar os pagamentos via carteiras digitais e das tecnologias de tokenização por parte dos bancos, acelerando uma tendência que poderia levar muito mais tempo para se consolidar.

Tokenização é o processo de substituição dos dados do cartão de crédito ou débito por um conjunto único de caracteres, ou um “token”, que permite que os pagamentos sejam processados ​​sem expor quaisquer detalhes confidenciais da conta que possam violar a segurança e a privacidade dos consumidores. O sistema de tokenização gera 16 caracteres aleatórios, chamados de token, para substituir o número do cartão de crédito original durante as compras online. O sistema de tokenização retorna os caracteres aleatórios de 16 dígitos para a loja virtual para substituir o número do cartão de crédito do cliente no sistema. A tokenização oferece dois benefícios principais: segurança ao consumidor e ao ecossistema e uma melhor experiência de checkout.

Essa tecnologia tem se mostrado uma grande oportunidade para bancos e fintechs brasileiras gerarem as suas próprias carteiras digitais. Diferente dos outros países em que atuam, esse mercado no Brasil é dominado por Google, Apple e Samsung Pay. É um formato em que esses players acabam ficando com todos os dados de transações de clientes, o que possibilita a eles manter o relacionamento estreito com o consumidor — e pode afastá-lo do banco ou fintech.

Ao terem seus próprios cartões e carteiras digitais, os bancos não apenas reduzem custos (com tarifas, produção e envio de cartões físicos), mas também podem retomar esse relacionamento com o cliente, podendo usar o seu cartão digital logo após sua emissão. Dentro desse cenário, a tokenização pode ser uma excelente maneira de proporcionar pagamentos seguros e rápidos sem depender de chips.

Digital-first

As necessidades dos clientes mudaram com a pandemia, assim como seus comportamentos de compra. Nas empresas líderes de mercado, todas as interações com os clientes são agora digital-first, como é chamada a concepção de experiências com uma abordagem digital, antes de tudo. Esses negócios digitais são mais inovadores, rápidos e dinâmicos, características que permeiam o seu crescimento.

Isso inclui a exigência por jornadas de compras simples e rápidas, do começo ao final da experiência. Com a abrupta redução do tráfego presencial, paralelamente à pressa para que os pedidos sejam concluídos imediatamente, os sistemas de pagamentos ganharam um protagonismo ainda maior.

Em março de 2020, quando o mundo foi arrancado de seu eixo pela Covid-19, muito se falou sobre o “retorno à normalidade”. Quase dois anos depois, é quase um consenso que muitos aspectos de como vivíamos nunca voltarão a ser exatamente como eram antes. Entre essas mudanças está a forma como interagimos com instituições bancárias e como efetuamos pagamentos.