Como seu smartphone pode convencer o banco a conceder um empréstimo

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Por Carolina Rezemini, Diretora Regional de Vendas para a América Latina da Credolab

Muitas vezes, para dar uma ideia a respeito da credibilidade de determinada pessoa, usam-se os dizeres: “Dela eu não compraria nem um carro usado”. A mensagem transmitida é a de que o indivíduo em questão não é lá muito confiável. Nem sempre, porém, uma frase solta ou uma percepção sugerida são suficientes para determinar o nível de confiabilidade de alguém. Ao longo do tempo, o mercado desenvolveu balizadores bem mais precisos para chegar a pareceres dessa natureza.

Surgiram, assim, os scores de crédito. No Brasil, seu advento é relativamente recente se o compararmos com a proliferação do conceito em outros países, como os Estados Unidos. Na última década, a prática ganhou força por aqui com o reconhecimento da legalidade dos sistemas de score por parte da Justiça, no entendimento de que essas ferramentas podem ser usadas sem o prévio consentimento da pessoa.

O cadastro positivo despontou como um desdobramento desse parecer – e com o intuito de estender a análise para outros vieses, uma vez que o consumidor passou a ser estudado não apenas enquanto inadimplente, mas também sob a ótica das ocasiões em que foi um bom pagador.

Adeptos desse direcionamento lançam mão do argumento de que se trata de uma democratização do crédito, visto que coloca a análise do perfil sob uma perspectiva mais ampla. De qualquer maneira, ainda há um terreno bastante fértil para evoluir nesse sentido, sobretudo se considerarmos uma abordagem mais moderna e ainda pouco utilizada no Brasil para a composição de scores: a comportamental.

Faz tempo que os estudiosos sabem que o modo como alguém lida com suas finanças acaba sendo um reflexo de sua personalidade como um todo. Daí decorrem os princípios da psicologia financeira, disciplina que relaciona a economia com o comportamento humano em geral. Um exemplo bem básico: uma pessoa mais arrojada nas decisões da vida tem mais chances de se dar bem com ativos de risco mais elevado na bolsa de valores.

Interpretação de sinais

A postura do indivíduo enquanto devedor pode ser vista também em atitudes suas do dia a dia que aparentemente nada tem a ver com dívidas. Já existem empresas que perceberam mais claramente essas intersecções. E, valendo-se daquele que atualmente se configura como um dos principais elos das pessoas com o meio que as cerca – o smartphone ou o computador -, desenvolveram uma metodologia inteligente de interpretação de sinais, transformando ações ao teclado em indicadores de score de crédito.

Número de downloads. Organização de agenda. Tipos de conexão. Acredite, todos esses movimentos num mobile ou desktop dizem muito sobre cada um de nós. E eles se tornam matéria-prima riquíssima de análise especialmente em cenários em que tanta gente não possui um histórico financeiro consistente para embasar uma decisão de concessão de crédito. É o caso do Brasil.

Uma frase isolada ou uma percepção sugerida não é o bastante para determinar a confiabilidade de alguém. No entanto, muitas frases e percepções corretamente ordenadas, cruzadas e pesadas de acordo com a sua relevância para um contexto específico são, sim, indicativos seguros para determinar o risco de uma operação financeira.

É esse o nicho de atuação das empresas que trabalham com os chamados scores de crédito integrado, aqueles que consideram muito mais que o histórico financeiro de um consumidor na hora de lhe atribuir um valor. E isso sem desrespeitar a privacidade das informações que acessam, uma vez que a análise não se baseia no conteúdo em si, mas nas características que o cercam – como o número de downloads, conforme já citado, e não o que foi baixado pelo usuário do aparelho.

É de fato o que se pode chamar de análise inteligente de dados. E, ao ampliar as possibilidades de concessão de crédito, esse método tem tudo para viabilizar um número crescente de novas transações comerciais em vários segmentos de mercado – inclusive o de carros usados.